VISÃO

Dos sentidos humanos, esse é o que mais prezo. Por isso mesmo fui no oftalmologista essa semana depois de meses com dor de cabeça. Meu médico mudou de clínica e eu como gosto muito dele, resolvi ir atrás. Ele é diferente de qualquer médico que tem por aí. Não é daqueles que nem olham pra sua cara, pensando bem, não tem muito sentido falar isso de um oftalmologista, afinal, ele praticamente enfia milhões de coisas em nossos olhos. Bem, a verdade é que gosto dele e fui em seu novo consultório no Abadia.

Depois de passar metade da tarde no consultório, indo e vindo, pingando o tal colírio que dilata a pupila. Não sei se isso já aconteceu com você, mas eu me sinto “alta” quando uso esse colírio. Será que é por isso que gosto tanto dessa tal oftalmologia? Enfim, sorria para as crianças e para as pessoas que chegavam que tenho certeza que não as conhecia. Ouvi conversa de dois amigos que se formaram há 10 anos em Alfenas. Realmente um encontro inesperado:

- Qual seu nome?

- Alexandre.

- E aíiiiii Alexandre? Lembra de mim?

- Caaara, ‘tô lembrando. O que você está fazendo aqui?

- Eu sou daqui. Depois que formei montei uma farmácia de manipulação e fiz uns cursos de homeopatia. E você?

- Ha cara, ‘tô indo pros Estados Unidos.

- Fazer o quê lá?

- Vou fazer um pós-doutorado.

Tentei olhar pra cara do moço, mas não consegui, o colírio alucinógeno já não me deixou olhar pra cara do moço que vai fazer pós-doutorado em Harvard. E lá veio a moça com a última gotinha do colírio.

- Você tem o olho claro e a pupila dilata mais rápido. Se ficar de olho fechado logo vai estar totalmente dilatada.

Eu, como boa moça, fechei o olho. Dormi. Não sei quanto tempo. Acordei com todos os pacientes (e bota paciente nisso) rindo da minha cara e a moça do colírio alucinógeno me chamando pra terminar os exames.

[continua...]

Ana Cláudia Soares escreve aos sábados na escritureira.