Estiquei o braço para retirar a linha que estava presa a seu casaco. Meu olhar, eu sei, voltava-se para dentro, perdida. Quem saberia dizer, derrepente anunciava uma paixão com data de validade vencida. Mais uma vez o que chamei de amor estava indo embora. Sei que para os braços de um futuro que ele presumia correto. Sei que para liberdade que ele julgava não ter do meu lado. Melhor que fosse embora mesmo. Se meu ombro transfigura uma jaula. Meu carinho tranformou-se em coleira. Longe daqui ele tocaria seus passos...
Eu acredito que o melhor fica comigo e, uma hora ou outra o que eu ousei chamar de meu objeto do amor, claro que num gesto de libertar a minha consciência, voltaria a esse mesmo lugar de partida e buscaria o que ficou. Errado. Planejo que para tal percusso, muito chão se estenderia, tal fato se daria longe. Pois hoje eu também vou embora. Cansei de ficar. E só de imaginar quem vai olhando p´ra trás, dá-me nos nervos. Vou também. Assim ninguém é abandonado. E o gesto de tchau é para quem passa e, não para quem fica.
*
Por algum tempo o ajudei na composição de seus sonhos. Precipitei-me em fazê-lo disciplinado. Em sempre cobrá-lo pelas horas perdidas, pelos minutos vazios. Ele morava na minha casa. Comia da minha comida. Molhava-se, lavava-se com minhas águas. Tenho medo de pensar que em algum momento a estima que construí, todo aquele afeto emergencial, eram apenas pelos serviços sexuais do rapaz. Ao mesmo tempo que penso, que nada seria mais justo do que ele me possuir e vice-versa. Afinal de contas ele não me dava dinheiro para as despesas. Não lavava o prato que comia. Não limpava o quintal. Muito menos saía para comprar um pão. Se prestava somente a estudar, estudar e estudar. Dormir, dormir. Masturbar-se. Logo seu descanso era cobrir-se do meu corpo. O muito que fazia era deixar as peças de roupas espalhadas pela casa me arrumando mais trabalho depois de uma longa jornada na livraria. O engraçado é que na vida eu sempre estive vendendo e comprando. E não seria estranho pensar que ao usá-lo eu também era usada. Mais prático o seria pensar que eu era uma empregada de mim mesma. Trabalhando para continuar trabalhando, enquanto meu moço, minha cria, preparava-se para partir.
*
Estou aqui parada entre o vão da porta e as possibilidades da rua. Demoro algum tempo para lembrar que minha mochila está com o que preciso para também partir. Meu olhar agora se perde em fotografias internas, tiradas pelos cômodos da casa ao longo dos pequenos momentos que passei com ele. Entre a decisão pela solidão trancada e a outra que posso viver no ônibus que parte daqui a pouco, devo escolher a segunda. Devo construir para a liberdade. Ainda que essa mesma passarinha venha alicerçada num orgulho que não me deixa aceitar a condição de desamparo por estar só, por ter ficado p´ra trás.
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Por algum tempo o ajudei na composição de seus sonhos. Precipitei-me em fazê-lo disciplinado. Em sempre cobrá-lo pelas horas perdidas, pelos minutos vazios. Ele morava na minha casa. Comia da minha comida. Molhava-se, lavava-se com minhas águas. Tenho medo de pensar que em algum momento a estima que construí, todo aquele afeto emergencial, eram apenas pelos serviços sexuais do rapaz. Ao mesmo tempo que penso, que nada seria mais justo do que ele me possuir e vice-versa. Afinal de contas ele não me dava dinheiro para as despesas. Não lavava o prato que comia. Não limpava o quintal. Muito menos saía para comprar um pão. Se prestava somente a estudar, estudar e estudar. Dormir, dormir. Masturbar-se. Logo seu descanso era cobrir-se do meu corpo. O muito que fazia era deixar as peças de roupas espalhadas pela casa me arrumando mais trabalho depois de uma longa jornada na livraria. O engraçado é que na vida eu sempre estive vendendo e comprando. E não seria estranho pensar que ao usá-lo eu também era usada. Mais prático o seria pensar que eu era uma empregada de mim mesma. Trabalhando para continuar trabalhando, enquanto meu moço, minha cria, preparava-se para partir.
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Estou aqui parada entre o vão da porta e as possibilidades da rua. Demoro algum tempo para lembrar que minha mochila está com o que preciso para também partir. Meu olhar agora se perde em fotografias internas, tiradas pelos cômodos da casa ao longo dos pequenos momentos que passei com ele. Entre a decisão pela solidão trancada e a outra que posso viver no ônibus que parte daqui a pouco, devo escolher a segunda. Devo construir para a liberdade. Ainda que essa mesma passarinha venha alicerçada num orgulho que não me deixa aceitar a condição de desamparo por estar só, por ter ficado p´ra trás.
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Frederico César de Oliveira escreve ás terças-feiras no/na Escritureira
9 comentários:
Bom dia Fred!
seus textos estão a cada dia mais emotivos e criativos.
PARABÉNS:
Dani Daia
Meu Deus... pára o mundo que eu quero descer...
Nossa Fred... Adorei! :|
Nao tenho mais palavras...
"Cansei de ficar. E só de imaginar quem vai olhando p´ra trás, dá-me nos nervos. Vou também. Assim ninguém é abandonado." Genial!!Parabéns pelas palavras!
AI IRMÃO MUITO BOM, O LIVRE ARBITRIO É COM SUAS IMENSURAVEL ALGEMAS E ASAS PROPORCIONADAS!!
FICA COM DEUS!!MUITA SAUDE!!BENÇA!
"Estou aqui parada entre o vão da porta e as possibilidades da rua."
Engraçado passamos por esta situação todos os dias. Temos grandes possibilidades, varios caminhos e grandes desafios.
Estou gostando muito da maneira que vc esta escrevendo.
Puxa... Nem tenho palavras pra dizer o que achei não! Bom demais!
Como as possibilidades da vida nos deixam em dúvida.Muito bom o assunto, o texto,todo o sentimento contido nele.
Está novamente de parabéns!
Muito legal sua visao feminina de cada fato narrado. É interessante e didatico perceber esse universo infinito que nos separa - Homem X Mulher.
E vc acertou em muito nesta maneira de nós mulheres pensarmos!! E como pensamos, hein!!
Nos sentimos usadas ( pra nao dizer puta, porque é feio!); abandonadas sem saber o porque? pois tínhamos dado o melhor de nós(!); e enfim abandonamos. Cansadas!! ou talvez...e porque nao (nao havia pensado nisso!) por nosso proprio orgulho!
Foi uma auto analise!!
Obrigada!
Virei aqui mais vezes!!
Raíssa.
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