Pegou o telefone, discou sem escolher os números. Disparou:
-Tudo acaba hoje.
-Alô?... quem fala?...
-Tudo acaba hoje.
*
Márcio escutava atônito do outro lado da linha. Pensava “como assim tudo acaba hoje?”. Quando perguntou novamente quem falava. Escutou apenas o barulho continuo do sinal que acusava o término da ligação. O famoso: “tutututututu...”.
*
A postos de acusar o próximo número na sua sessão matinal de trotes, viu sua mãe entrar pela sala desolada. Interrompeu a ligação.
-O que acontece?
-Acabei de pegar o resultado do exame de sangue...
*
José tinha uma tia internada com problemas nos rins. Que constantemente precisava de fazer hemodiálise. Por aqueles tempos a família se reuniu num gesto de complacência e ternura. Todos à mesma época passaram a doar sangue no hospital de hemofílicos da cidade, num gesto que atenuava o sofrimento de todos.
*
Logo pela manhã, Joana pegou o resultado do exame. Passou pelo consultório de um médico conhecido da família. Na verdade queria entender os motivos pelos quais a ligaram do laboratório para pegar o exame. O que diziam aqueles papéis. Quis saber do atendente, mas o garoto não podia falar.
-Então não tem jeito filho?
-Não minha senhora. Somente um médico pode lhe dizer.
*
Márcio a muito tempo gostaria de ter saído do emprego. O chato da sua empreita no laboratório era o olhar das pessoas. Desconexos, ansiosos, perdidos em uma tristeza abstrata. Era de lhe cortar o coração quando tinha de entregar algum exame que carregava uma má notícia.
-O que você tem amor?
-Hoje entreguei um exame a uma senhora... A notícia que ele carregava não era nada boa...
-Mas Márcio!... Você tem que ser profissional... Não pode se deixar abater por algo que é comum do seu ofício...
-Você não entende... A culpa é do olhar... A culpa é dos olhares...
*
Sentada na poltrona da sala, Joana procurava uma forma de contar a seu filho que o exame em suas mãos não era de sua tia, mas dele. E que o motivo que a colocou em desconsolo feriam em muito sua razão.
-Leucemia terminal José.
-Como mãe?
-Tudo acaba hoje meu filho...
*
*
*
-Tudo acaba hoje.
-Alô?... quem fala?...
-Tudo acaba hoje.
*
Márcio escutava atônito do outro lado da linha. Pensava “como assim tudo acaba hoje?”. Quando perguntou novamente quem falava. Escutou apenas o barulho continuo do sinal que acusava o término da ligação. O famoso: “tutututututu...”.
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A postos de acusar o próximo número na sua sessão matinal de trotes, viu sua mãe entrar pela sala desolada. Interrompeu a ligação.
-O que acontece?
-Acabei de pegar o resultado do exame de sangue...
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José tinha uma tia internada com problemas nos rins. Que constantemente precisava de fazer hemodiálise. Por aqueles tempos a família se reuniu num gesto de complacência e ternura. Todos à mesma época passaram a doar sangue no hospital de hemofílicos da cidade, num gesto que atenuava o sofrimento de todos.
*
Logo pela manhã, Joana pegou o resultado do exame. Passou pelo consultório de um médico conhecido da família. Na verdade queria entender os motivos pelos quais a ligaram do laboratório para pegar o exame. O que diziam aqueles papéis. Quis saber do atendente, mas o garoto não podia falar.
-Então não tem jeito filho?
-Não minha senhora. Somente um médico pode lhe dizer.
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Márcio a muito tempo gostaria de ter saído do emprego. O chato da sua empreita no laboratório era o olhar das pessoas. Desconexos, ansiosos, perdidos em uma tristeza abstrata. Era de lhe cortar o coração quando tinha de entregar algum exame que carregava uma má notícia.
-O que você tem amor?
-Hoje entreguei um exame a uma senhora... A notícia que ele carregava não era nada boa...
-Mas Márcio!... Você tem que ser profissional... Não pode se deixar abater por algo que é comum do seu ofício...
-Você não entende... A culpa é do olhar... A culpa é dos olhares...
*
Sentada na poltrona da sala, Joana procurava uma forma de contar a seu filho que o exame em suas mãos não era de sua tia, mas dele. E que o motivo que a colocou em desconsolo feriam em muito sua razão.
-Leucemia terminal José.
-Como mãe?
-Tudo acaba hoje meu filho...
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Frederico César de Oliveira escreve ás terças-feiras no/na Escritureira
9 comentários:
Gostei demais! Que história..
"O chato da sua empreita no laboratório era o olhar das pessoas. Desconexos, ansiosos, perdidos em uma tristeza abstrata."
Desconexos! Gosto dessa palavra.. rs
Muito bom!
Doses diárias de textos de frejat, sempre surpreendendo...
Bacana... a ironia do final é o melhor... hauahuahau...
abração
Fredinho muito bom !!!!!
" -Você não entende... A culpa é do olhar... A culpa é dos olhares..."
Ainda não acaba não....Vc fez falta no sábado; ainda não conseguimos nos conhecer! Espero que agora esteja tudo bem. Um abração.
obrigado pelos comentários mayla, farinha, bruno, 'amor' e rose.
na ficcão tudo "quase pode", assim como na vida!...
sem trotes, enquanto as palavras nos seguirem, aqui estaremos...
obrigado!
paz e bem
Já passei muitos trotes...
Me lembra infancia..
historia triste e penetrante,nos faz pensar em cada minutos que se passa na nossa vida.
Gostei,parabéns pelo texto!
ai mano muito bomm!!!gostei da condução e a relação do comtemporaneo, relação muito atual tb no cinema!né!!
grande abrass mesmo escondido dos amigos, a escuridao da solidao nao apaga as formas amigaveis e afetuosas dos manos!
Fred e os textos que arrepiam a coluna...
Cada dia melhor maninho!!
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