20.1.09

fragmentos...

1.
"No caminho para casa deixo que essa porra de brisa me toque o rosto e é verdade que não tenho escolhas. Não comando a respiração do mundo. Meu cabelo amarrado por duas tiras de pano lilás se esvai em embaraço. Ascendo um cigarro para dramatizar minha caminhada. Na outra mão tento tornar imperceptível essa minha bolsa em formato de cachorro, que deveras eu acho ridícula. Eu ia ter coragem de ir para uma cidade que não conheço, vestida dessa forma que ainda não os falei... calça xadrez com entonações vermelhas e preto, pequena blusinha verde, tênis All Star branco, cor de bosta nunca lavado, e vocês ai já me acusam de cafona. Devo dizer que sair assim não foi algo planejado. Embora os meus olhos tenham sido pintados de forma estratégica de um modo que me fizessem parecer uma adolescente em fase rock vodca crise menstruação para que todos os dias se igualassem aos outros. Cansei de trabalhar e usar terninhos. Sair do trabalho foi tão fácil que valeu a seduzida que dei no chefe. Em tempos que minha auto-estima se compraz em coisa ruim, testei meu poder de fogo no dia em que sabia, a mulher dele estaria por lá. Duas vitórias derrotas que minha consciência refaz: o sexo vulgar pela liberdade e a solidão."
2.

"Legais são as bonecas russas e seus cabelos vermelhos. Outra coisa. Não consigo me livrar de um quadro antigo que ganhei de vovó, feito da foto de um calendário distribuído por algum supermercado, hoje falido, na década de 70. Nele uma senhora negra amamenta uma criança branca. Embora eu tenha tomado muito copo de leite olhando aquela foto não sei se meu afeto vem de uma forma de tornar viva a memória de vovó através daquelas tetas brancas abocanhadas pelo albino ou se pela mascarada mensagem de cunho social que a pobre e já gasta impressão carrega. Num tempo não muito longe eu bem que esbocei ser uma militante de esquerda, mas não consegui deixar de comer macdonald´s, em um paradoxismo constante que muito fez-me emagrecer. Abandonei."
3.

"Subi o morro desavisado, longe de mim, um tanto quanto errante nos passos que lançava ao chão. Pelo caminho a seguir, ás águas da chuva que havia caído pelo amanhecer encontravam meus pés. Perdido em minhas abstrações, pensava no trabalho que teria ao longo do dia. E de como seria bom se eu pudesse ter ficado em casa debaixo das cobertas, dormindo, lendo um bom livro, sonhando... Avistando as pequenas árvores do meu destino, eu me demorava."
...
frederico oliveira.

6 comentários:

rasecsevla disse...

Fragmentos de um Freja de esquerda, muito tempo não via seus pensamentos dessa maneira com lembranças de um negra de rocha... Sem palavras.

Unknown disse...

magnífico,super moderno...
Amei,trexos muito realistas...
parabéns....

Ana Cláudia disse...

Demais!!
Adoro fragmentos. Bom pra fazer pensar "o que será que vem depois?"
Parabens!

Anônimo disse...

bem ruizinho hein Frederico?
de vc já li coisas melhores...
texto cheio de maneirismos comuns.

abraço, não se revolte, ame!

Cia. UNO disse...

ai muito bom!!!!!

Luiz Hozumi disse...

bacana.. mto bom, realista sim, popular e comum sim, agradável e sedutivo sim, bacana